31 de mar. de 2009

Do Contra! - Parte II


Em um dos primeiros posts desse blog, escrevi sobre Dunga - defendendo-o, mesmo enxergando todos os seus defeitos. Seguindo essa mesma linha, quero falar de uma figura extremamente criticada do nosso futebol: Ricardo Teixeira. Um personagem que, mais do que ser simplesmente criticado, convive há anos com a total e completa falta de reconhecimento.

Confesso que não consigo me lembrar de nenhum veículo de comunicação, ou de qualquer profissional, que tenha uma opinião favorável a essa figura. Parece que muito dessa relação se deve à arrogância de Teixeira, que não faz questão alguma de agradar a imprensa, seja ela nacional ou mesmo internacional. E, também, não podemos negar, às constantes denuncias de corrupção envolvendo seu nome.

Mas, assim como escrevi sobre Dunga, os erros e defeitos não deveriam impedir que as qualidades os acertos e fossem percebidos. Tenho uma visão muito clara de que os resultados da administração da CBF condizem com o tamanho da paixão e da qualidade do nosso futebol. E, por mais que isso pareça uma relação óbvia, a realidade mostra que nem sempre é assim: nem sempre uma entidade consegue atrelar suas ações com o tamanho do objeto administrado.

Exemplos não faltam. Vários clubes gigantescos vêm descendo a ladeira, há anos, por causa das sucessivas péssimas administrações. Esportes com potencial comprovado entraram em profundo ostracismo internacional, também como resultado das péssimas administrações - o melhor exemplo dessa situação é o basquete. Isso se ficarmos restritos a exemplos nacionais. Se pensarmos de forma internacional, talvez a completa decadência do futebol do nosso vizinho Uruguai esteja relacionada a aspectos mais amplos do que a situação do país de forma geral - e a inoperância da Associação Uruguai talvez tenha muito a ver com esse declínio. Outro exemplo que me vem a mente é o das seleções africanas, que por diversas vezes estiveram envolvidas com problemas administrativos, de relacionamento entre atletas,técnicos e federações, e de completa falta de estrutura. Claro que muito disso se deve a própria situação vivida por alguns paises do continente, mas o fato é que, pelo material humano que seleções como Nigéria têm, os resultados alcançados teriam sido muito mais relevante se fossem respaldados por um boa retaguarda de infraestrutura.

Essa visão geral sobre entidades esportivas me levou a observar com certa admiração alguns feitos que a CBF alcançou e/ou consolidou nos sucessivos mandatos de Ricardo Teixeira.

Quando ele assumiu a CBF, em 89, encontrou uma seleção que não vencia uma Copa havia 19 anos, e teve pouco tempo para interferir no resultado da copa de 90. Começou pessimamente, associando-se com a imagem fracassada da geração Dunga e Lazaroni. Na copa seguinte, o tetra foi construído com estruturas e ações que representam bem seus métodos: boa estrutura para o time e problemas com impostos do vôo que trouxe os campeões de volta para o Brasil. Já em 96, firmou um contrato milionário com a Nike, contrato esse que na época pareceu pela primeira vez estar de acordo com a grandeza da camisa canarinho. Em 2002, veio o Penta com Felipão. Tudo isso, sem citar o melhor aproveitamento da história em Copas Américas: de 1916 até 1987, o Brasil só tinha levado três vezes a taça; de 1989 a 2007, foram cinco.

Em relação à estrutura, vou apelar para o exemplo dos clubes e federações de outros esportes. Já vimos, em inúmeras oportunidades, queixas de negligência e incompetência médica, falta de estrutura para treino, alojamento e transporte.. Ou seja, vemos queixas de más administrações que interferem no rendimento esportivo. Mas não lembro de ter visto muita coisa, nesses anos de Ricardo Teixeira, associando a CBF à falta de estrutura. Ela oferece uma estrutura de primeiro mundo, condizente com a magnitude de nosso futebol. Esse tratamento de primeiro mundo, inclusive, está atrelado a um detalhe que eu considero o maior erro da CBF nos últimos anos: o afastamento entre torcida e o time. Sempre atrás das melhores estruturas e de rentabilidade, a equipe se afastou do seu torcedor: joga pouco nos país e, quando joga por aqui, é quase sempre nas principais cidades do sudeste.

A confirmação da Copa de 2014 no Brasil foi mais uma conquista e que vai exigir a plenitude da capacidade de gestão da entidade.

Além disso tudo, poderia citar uma boa evolução na estrutura do Campeonato Brasileiro, consolidando o sistema de pontos corridos, mantendo o mesmo sistema todo anos e acabando com a bagunça que eram as fórmulas anteriores, que não incentivavam a organização e o planejamento dos clubes.

Então, antes de finalizar esse texto gostaria de esclarecer que ele é como um exercício, para que possamos sempre olhar para todos os horizontes de uma questão. A competência de uma pessoa não isenta ela de cumprir com as obrigações éticas, morais e legais. Se a administração de Ricardo Teixeira for comprovadamente corrupta ele tem que pagar pelos atos ilícitos e logicamente tem que ser afastado do cargo. Mas, enquanto isso, a desconfiança geral não deveria ignorar, solenemente, os seus feitos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Não é? ou não é ou não é? ééééééé