7 de jul. de 2014

Eu e a Copa

Lembro tão bem de quando eu tinha dez anos de idade. Foi nessa época que eu ouvir falar pela primeira vez sobre alguns países. Tive contato com as bandeiras, localizações geográfica e dados culturais de nações como Camarões, Costa Rica e Emirados Árabes Unidos, por exemplo. Desde então, meu interesse por esse tipo de conhecimento só fez crescer e me acompanha até hoje (não por acaso me tornei geógrafo, não por acaso meu programa televisivo favorito é o Não Conta Lá em Casa).

Isso tudo aconteceu por causa de uma competição esportiva. Completei minha primeira década de vida em 1990, ano em que foi realizada, na Itália, a décima quarta edição da Copa do Mundo, e os países citados no parágrafo anterior estavam lá. Foi a primeira vez em que eu acompanhei de fato a competição, lembro-me de cada detalhe. E lembro, ainda mais perfeitamente, que, desde aquele tempo, eu entendi que uma Copa vai muito além das coisas que acontecem dentro das quatro linhas. E olhe que dentro dos gramados coisas extraordinárias acontecem, de quatro e quatro anos, quando os maiores atletas do mundo se reúnem pra a competição mais importante de suas vidas. Tenho certeza que jamais me esquecerei dos feitos de Totò Schillaci, Walter Zenga e Roger Milla, em 90.

É durante a Copa que a imprensa mais produz matérias a respeito de outros países. É certo que foi durante alguma das participações da Croácia em Copas, que muitos conheceram as belezas daquele país e souberam que ele, tempos atrás, era parte integrante da Iugoslávia. Em 2010, aposto que muitos ficaram sabendo o quanto a Coreia do Norte é uma nação altamente fechada para o mundo exterior. Esse ano, deve ter sido grande o número de pessoas que descobriu que o persa é a língua oficial do Irã, tão grande quanto o número dos que tiveram contato pela primeira vez com o “pura vida” da Costa Rica.

Mesmo em tempos em que a globalização é palavra da moda, é difícil imaginar outros eventos que sejam capazes de provocar tamanha interação entre povos (e uma interação tão positiva, diga-se de passagem). A maioria da nações ainda vive de forma muito isolada entre si. E a Copa ajuda a promover a integração de forma bastante eficiente e positiva. Quantas pessoas foram pela primeira vez ao continente africano na Copa da África do Sul? Em que outra oportunidade um soteropolitano poderia ver a alegre interação entre bósnios e iranianos? Provavelmente, só os Jogos Olímpicos conseguem feito parecido.

Se fora de campo a Copa é fantástica, para os apaixonados por futebol, como eu, dentro de campo, também, é maravilhoso acompanhar uma competição em que praticamente 100% dos jogos são jogos históricos, e isso não é simplesmente modo de falar. Com o passar do tempo, cada um dos jogos assume papel histórico para as gerações de atletas e torcedores de cada um dos países que tem a sorte e a competência de participar da festa. Sejam vitória, empates ou derrotas, cada confronto ajuda a contar parte significativa da história do futebol. Ter a oportunidade de ver os maiores craques juntos fazendo todo o sacrifício pelos seus países é sempre um momento mágico.

Fato é que, desde criança, eu adoro Copa do Mundo e falar isso para as pessoas nunca me gerou nenhum tipo de problema ou desconforto. Até o dia em que passamos a acompanhar a Copa ser organizada em nosso próprio país. Ai a coisa mudou. Nos últimos meses se tornou normal que algumas pessoas tentassem constranger aqueles que demonstrassem entusiasmo com a realização do mundial. O auge desse movimento foi o tal do #nãovaitercopa. Eu, particularmente, tive trabalho para convencer alguns conhecidos de que era, sim, possível separar a maravilha que é receber uma Copa dos abusos e erros de governos e dirigentes.

No final das contas, fiquei feliz ao ver a maior parte do país entrar no clima, mesmo que com certo atraso. Fiquei feliz ao perceber que muita gente passou a entender que o fato de acompanhar e apoiar esse evento esportivo, não os torna um apoiador ou cúmplice de dirigentes corruptos. Eu entenderia perfeitamente se a maioria dos brasileiros fosse contra a realização do evento, quando da candidatura do Brasil a país sede, embora eu definitivamente fosse a favor desde o início, essa é a beleza da democracia. Mas tentar avacalhar o evento depois de confirmado, seria uma atitude altamente calhorda, egoísta e prepotente. Sorte nossa que o #nãovaitercopa acabou virando apenas uma piada de brasileiro.

Poderia listar aqui acontecimentos mágicos que essa Copa já produziu, mesmo antes de chegar às semifinais, mas sei que é desnecessário. Tenho certeza que qualquer pessoa como mínimo de sensibilidade já se emocionou com algum momento produzido por jogadores e torcedores desde que a copa começou no início do mês passado.

Pois é, muito cedo eu percebi que o mundial de futebol é um dos momentos em que a humanidade consegue mostrar o seu lado mais positivo. Desde aquele, hoje distante, ano de 1990 eu sonhava em ver uma Copa do Mundo de perto, mas as circunstâncias de minha vida fizeram com que o primeiro Mundial que eu pudesse vivenciar in loco acontecesse justamente em meu país, em minha cidade, em minha casa. No final fico satisfeito de pensar que em nenhum momento eu deixei as coisas ficarem confusas em minha cabeça e aproveitei cada instante desse evento sensacional. Rússia, em 2018, tô ai!!!