12 de mai. de 2010

Coisas sobre a convocação! (ou "Mexeu com Dunguinha mexeu comigo")



Eu tenho lido e ouvido muitas criticas à convocação da Seleção para a Copa, e estava sem tempo para colocar aqui minha opinião, que em alguns pontos difere da opinião da maioria. Aproveitei, então, que li um texto que resume bem a opinião geral e fiz meus comentários baseados nele.


Texto original aqui


Vou tentar fazer meu comentário por tópicos, seguindo a ordem do texto original.


1-Logo no inicio do texto, o blogueiro critica a falta de experiência de Dunga para assumir o cargo. À primeira vista esse é um argumento incontestável. Porém, uma análise menos superficial pode revelar detalhes que não devem ser negligenciados.

O primeiro detalhe se refere à diferença evidente existente entre as funções de técnico de um clube e de uma seleção. Essa diferença pode ser explicada pelas diferentes variáveis que interferem no resultado de um clube e de uma seleção, e seria mais bem abordada por alguém que tenha alguma vivência profissional no meio do futebol, o que não é o meu caso. Essa diferença a história se encarregou de mostrar para quem quisesse ver. É só lembrar dos comandos vitoriosos de Parreira (1994), que nunca foi considerado um treinador top de linha, e Zagalo (1970), que assumiu a Seleção de Saldanha em meio a um turbilhão de criticas a sua nomeação. O único dos 5 títulos conquistado pelo Brasil, ao meu ver, com um técnico de brilhante e incontestável carreira em clubes foi o de 2002, com Felipão. Da mesma maneira podemos apontar o fracasso de vários técnicos com brilhantes carreiras em clubes quando tiveram oportunidade na seleção. O mais simbólico é o caso de Wanderlei Luxemburgo. Fora os exemplos recentes acontecido com outras seleções que tomaram postura similar, e nomearam uma pessoa sem experiência como treinador, podemos citar o Maradona na Argentina e o Klinsmann na Alemanha semi-finalista em 2006.

Ainda nesse tópico, o autor fez uma analogia entre o cargo de técnico da Seleção e presidência de uma multinacional. Eu entendo, portanto, que diante dos fatos, essa comparação transferida do campo empresarial para o contexto do futebol acaba perdendo o sentido.

2- O texto contesta o “perfil” de Dunga ao ser escolhido para o cargo em 2006. Mas, se deixarmos de lado a nossa fama de “povo sem memória”, iremos lembrar que após o fracasso na Copa de 2006 era quase um consenso nacional que o que faltou a seleção foram “raça” e “comprometimento”. Naquela época eram comuns comentários como: “Essa seleção tá cheia de craques, mas os caras não querem nada. Sou mais um time meia boca, mas que jogue com raça, com amor a camisa”; “A culpa é de Parreira que deixou a coisa solta, só precisa colocar os caras nos eixos, que o futebol é fácil”. Nesse período, até Bernadinho do vôlei foi cogitado para ser treinador da seleção, pela sua identificação com as palavras “raça” e “profissionalismo”. Portanto, mais uma vez eu acho que naquele contexto o “perfil” de Dunga era perfeitamente adequado ao cargo.

3- O autor escreveu: “Dunga nunca foi mais que um jogador esforçado”. Eu não concordo, acho que Dunga foi um dos maiores volantes que o Brasil já teve. Ele estava um pouco a frente do seu tempo, é verdade. Porém, as características que Dunga consagrou já em 1994 são hoje as características fundamentais de qualquer cabeça de área; grande poder de marcação, capacidade de roubada de bola, bom passe, bom posicionamento para cobertura dos zagueiros e laterais (essa difícil de ser percebida pela maioria dos torcedores) e boa saída de bola (é só lembrar do passe de 3 dedos dele para Romário fazer o primeiro gol contra Camarões em 1994).

4- O texto afirma, também: “Dunga é instrumento do futebol de resultados, aquele que tem cuidado excessivo com a defesa, pouca liberdade de criação, falta de espaço para o improviso, para a genialidade”. Isso é um fato que eu não posso contestar. Mas como falei anteriormente, acho que exatamente por isso que ele foi parar lá, pelo clamor por “resultado” e “comprometimento”. Vale ressaltar que o último título de Copa conquistado pelo “futebol arte” foi o de 1986, por conta exclusiva da genialidade de Maradona, que foi o protagonista solitário de uma seleção medíocre, porém muito aplicada taticamente. No caso brasileiro o buraco é ainda mais embaixo, uma vez que nossa ultima conquista feita na base do espetáculo aconteceu em 1970, portanto, 10 anos antes de eu nascer, heheheheheh.

5-“ Dunga não gosta de craque. Nunca gostou”. Mais uma vez tenho que discordar. Dunga adora craque, mas ela só ira valorizar um craque se além de “craque” ele for uma “atleta”. O problema é que ultimamente nossos maiores “craques” tem sido tudo menos atletas. Maior prova de que isso é verdade é o fato de que Dunga sempre esteve comprometido com Kaká (já eleito melhor do mundo) e com Robinho (o símbolo mais forte do improviso e do espetáculo, nas ultimas décadas do futebol brasileiro). O que ele não gosta em Ronaldinho, por exemplo, não é o fato de ele jogar muita bola, é o fato de ele não ter priorizado sua carreira nos últimos anos, ter estado mais presente em boates do que em treinamentos ( o próprio técnico dele, Leonardo, confirmou isso há pouco tempo).

6-“ Ele não tem ideia de que os mais de 100 anos de esporte bretão disputados em terras brasileiras forjaram um jeito, uma alma, um espírito próprio e único”. Esse trecho eu acho simbólico e vou tentar tratar de maneira clara. Há algum tempo Pelé é o símbolo maior da magia do futebol, e nem por isso ele teve que abrir mão do seu lado atleta. Assim como Zico e grande parte dos ídolos das gerações passadas. Parece, porém, que a coisa tem mudado e, mais ou menos como o texto fala, essas mudanças parecem estar espelhadas no “espírito” do povo brasileiro. Acontece, pra mim, que a valorização de perfis como o de Romário, Ronaldo, Ronaldinho é justamente o reflexo da valorização que nossa sociedade dá, atualmente, maior à “malandragem” do que ao trabalho. Justo a “malandragem”, o “jeitinho brasileiro” que nada mais são do que eufemismos para “falta de ética”, “picaretagem”, “descompromisso” e “egoísmo”.

­7-“ Ele nem desconfia que nós preferimos a bola ao troféu, o encanto ao título, o drible ao gol”. Isso eu duvido bastante. Heheheh. Eu lembro que em 1994, com um meio campo com 4 cabeças de área, o povo comemorou bem muito, ficou bem felizinho, heheheheh.

8- “E é exatamente por isso que não pode desembarcar no evento mais importante do planeta bola com jogadores como Gilberto Silva, Josué, Ramires e Grafite”. Já eu acho que pode, afinal Grafite e Josué são, respectivamente, artilheiro e capitão do campeão alemão e Ramires foi o destaque do Cruzeiro vice-campeão da Libertadores e é atualmente destaque do Benfica. E é bom, também, lembrar da indignação diante da convocação de nossa ultima conquista. Em 2002 Felipão não deu ouvidos ao clamor popular é deixou de fora o “malandro” Romário e levou os “perna de pau” Gilberto Silva, Kleberson, Anderson Polga, Edmilson e Belleti. O resultado todo mundo lembra. Já em 2006, com o “quarteto mágico”, a coisa não andou muito bem.

9- Por fim, o blogueiro declara: “E se o Brasil de Dunga ganhar a competição, não vou fazer festa nem carnaval. Prefiro ver estrelas no campo do que bordadas numa camisa amarela”. Ai não tem jeito, é pessoal, é cada um na sua.


Ps1:Espero ter colocado um pouco do “outro lado” da questão. Tão escondido nos últimos dias. Hehehehe. E sobre o texto, obviamente, as críticas não são pessoais ao autor. São sim, críticas de alguém que admira o trabalho de Dunga, diante de tanta paulada.

Ps2: Espero, logo que arrumar um tempo, comentar as convocações mais criticadas e que pra mim são plenamente justificaveis. Grafite, Kleberson e Doni. E encerrar o tema convocação.hehehe


Um comentário:

  1. Perfeito!
    Quem não encherga o trabalho de Dunga, são aqueles que só assistem aos "melhores momentos" editados pelas TV's. Futebol é muito mais! São mais ainda que 90 minutos! É o resutados de conquistas! Que o diga os torcedores do Barcelona, que cheio de craques foi desclassificada pela aplicada Internacionale...

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Não é? ou não é ou não é? ééééééé